Friday, July 20, 2007


TUAS PROMESSAS

Tuas promessas foram folhas ao vento.

Desperdiçaste a vida.

O melhor momento.

Um dia talvez lamentes.

Um dia talvez queiras recapturar.

Mas tão tarde será e a vida dirá não.

Perdeste a ocasião.

Os teus sonhos podias realizar.

Mais uma vez deixaste para depois.

E o depois será apenas um pássaro a voar.

Nunca mais conseguirás me alcançar.

Estou voando...

Estou partindo...

Pra nunca mais voltar.

Cansei.

Descobri que tu me matas com teu constante adiar.

Descobri que preciso outro caminho buscar.

Ninguém pode viver a vida inteira a esperar.

De promessas ninguém pode viver.

Chega de sofrer.


Sonia M. Delsin

Thursday, July 19, 2007


ROSTO EXPOSTO

Menina, teus cabelos ao vento.

Teu rosto macilento.

Teu pensamento.

Flores e plumas em movimento.

Desfolham margaridas.

Rosto lívido de uma menina sonhadora.

Rosto exposto ao vento...



Sonia M. Delsin





OS SEGREDOS DAS PEDRAS

Eu recolho pedras como quem colhe estrelas.

Eu recolho pedras pra guardar.

Um dia as lavo.

Coloco ao sol.

Elas têm os segredos delas.

E eu os meus.

Cada pedra guarda uma estória.

E cada ser humano guarda a sua estória no fundo do coração.

Mais uma pedrinha vai pra minha coleção.

Linda, miúda.

Não teve tempo de crescer?

Os segredos dela jamais vou conhecer.

Sonia M. Delsin


CEREJEIRA FLORIDA

Florida.

Linda, linda.

Eu fui visitá-la numa destas manhãs frias.

Não podia deixar de ir.

Tinha um compromisso com a bela árvore.

Me enamorei dela quando a conheci.

Foi no ano passado a primeira vez que a vi.

Estava florida e pensei.

Um dia volto aqui.

E voltei.

E a visitei.

Quem não guarda n’alma a beleza?

Quem resiste a um encanto da natureza?


Sonia M. Delsin



O MAIS DOCE DE TODOS OS BEIJOS

Me beijaste e o beijo foi o mais doce de todos os beijos.

Naquele dia eu nem imaginava que te encontraria.

Mas eu te buscava sem o saber.

Eu buscava um homem que pudesse me beijar daquela forma.

Um beijo que adentrasse minha alma.

Que me trouxesse de volta a fé no mundo.

Que me trouxesse a vida que se esvaia.

Senti uma onda de calor me invadindo como se um vulcão de repente entrasse em erupção.

Do nada.

Assim como o poder de uma varinha de condão.

Este beijo foi um marco em minha vida.

Senti que das cinzas fênix renascia.

E ela ansiava pelo que encontraria.

Foi sim o mais doce de todos os beijos.

O mais importante beijo de meu viver.

Ele me fez renascer.


Sonia M. Delsin


FUI TEU SONHO

Fui teu sonho.

Não sei se ainda sou.

Porque muita coisa mudou.

Entramos num tempo diferente.

E tudo silenciou.

Eu fui teu sonho.

O mais bonito de todos os sonhos que alguém pode ter.

Não devemos sofrer.

Guardamos os nossos momentos.

Nossas horas de amor.

Guardamos tudo que vivemos.

O futuro não conhecemos.

Mas o passado sim.

E nele nos pertencemos.

Nós fomos lindos com nossos sonhos.

Com nossos longos diálogos.

Com nossas esperanças.

Fico tão feliz por saber que fui teu lindo sonho.

E mais feliz ainda por ter sonhado tanto.

Só a vida é que dá a última palavra, no entanto.


Sonia M. Delsin

AONDE ANDARÁS?

Aonde andarás, menino lindo?

Num lugar eu sei que estás.

No passado.

É uma relíquia, uma jóia rara, um tesouro que tenho cuidadosamente guardado.

Tem dias em que me sento a olhar as coisas.

Fico olhando tudo que me rodeia.

Minha alma desta forma se incendeia.

Porque tudo me toca. Tudo me emociona.

Menino.

Naqueles tempos nós dois corríamos no pátio imenso.

Será que era tão grande como eu penso?

Será?

E as escadarias?

Nós subíamos e descíamos de mãos dadas... correndo.

Éramos o terror das freiras.

Mas éramos lindos.

Teu nome eu guardo. Teu rosto lindo. Teus olhos e cabelos negros.

E o calor da tua mãozinha estreitadinha a minha.

Tínhamos pouca idade e toda pureza do mundo.

Falávamos que quando crescêssemos íamos nos casar.

A vida é engraçada, menino.

Logo a vida veio nos separar.

Partiste.

Nem sei pra aonde.

Nunca mais soube de ti.

Mas o coração nunca esqueceu.

Um amor puro que um dia entre duas crianças nasceu.

Naquele pátio do colégio ficaram nossos risos, nossas estripulias.

Hoje, do que fomos, eu ainda construo algumas poesias.

Sonia M. Delsin


NUNCA UM ESTRANHO

Nunca foste um estranho.

Nem quando me chegaste naquela manhã tão fria.

Eu sentia uma agonia.

Tudo entre nós teve encanto, magia.

Eu pensei ao te falar:

este homem vai me escutar.

Ele tem um coração.

Ele vai me estender a mão.

E assim se deu.

Tudo tão bonito aconteceu.

Quando contigo eu conversava tudo normal eu achava.

Como se de sempre eu te conhecesse.

Como se ao mesmo caminhar a gente pertencesse.

Nunca estranho.

Nem quando teu rosto eu ainda não conhecia.

Nem quando eu escrevi aquela poesia.

Aquela que eu falava de um encontro singular.

Um homem que através de um espelho vinha me falar...

Nunca estranho.

Nunca.

Porque o coração sabe reconhecer.

Coração consegue perceber.


Sonia M. Delsin



“ESTILHAÇOS”

Eu estava quieta.

Em posição de lótus refletia.

“Pensava que minha vida estava vazia”.

Eu meditava.

Sabia que direcionar desta forma meus pensamentos eu não deveria.

Mas por descuido, ou desleixo estava me deixando levar.

Tristemente estava a pensar.

Foi quando ouvi um barulho ensurdecedor.

Tremi por dentro.

Me recompus e me ergui.

Fui me inteirar do ocorrido.

Vi no corredor quebrado o que fora uma garrafa, um vidro.

Eu não me recordava de ter visto jamais aquele recipiente.

E estava ali na minha frente.

Ao lado dele... alias ao lado dos estilhaços...

... havia um pedacinho de papel enrolado.

Abri e corri a ler.

A frase me estremeceu.

“Quem chega para te abraçar sou eu”.

A letra inconfundível.

Os emes e os as tão caprichados.

Meu Deus! Mas fazes parte do passado.

Abaixei a cabeça.

Deixei as lágrimas caírem sobre os estilhaços...

Deixei.

E o bilhete eu guardei.

Tu foste uma das pessoas que mais amei...

Pode ser tudo fruto da minha imaginação,

mas eu senti teu abraço.

Senti a tua mão.


Sonia M. Delsin


MAIS UMA NOITE

Mais uma noite que chega.

As cobertas são macias.

Cheirosas.

Lençóis cor-de-rosa.

Acolchoado azul.

Mais uma noite vazia.

Fria.

Não posso passar o resto da vida assim.

Sou igual flor solitária do jardim.

Sou um pobre jasmim.

Mais uma noite que me enrolo em mim mesma.

Digo paciência.

Mas é doloroso.

Dormir sonhando com um abraço.

Com um passo.

De alguém que não vai chegar.

Mais uma noite...

Será que não mereço que alguém chegue pra me amar?


Sonia M. Delsin



INSANA

Ela dançava e ria...

Que era tão alegre parecia.

Ria, ria...

Isso se passou noutra era.

Mas eu lembro tanto dela.

Seu nome não importa.

Ela está morta?

Ela partiu...

Meu pai sempre me dizia.

Uma frase ele dizia e sentido fazia.

Que nós devíamos desencantar.

Não morrer. Desencantar.

A insana desencantou?

Será que era tão demente assim?

Não creio.

Ela dizia algo que me marcou.

Ela falava.

Nesta vida quem não dança, dança.

Ela desencantou...ou se encantou.

Uma estrela ela virou e me espia.

Na noite fria.

Sonia M. Delsin



OBSERVANDO

Estou sentada numa varanda.

Observando.

Estou sentada numa cadeira macia.

Estou olhando.

Estou aqui a olhar.

Não só o que se descortina diante de meus olhos.

Vejo mais.

Vejo o tempo.

Escorrego pros meus primeiros anos.

Que delícia!

Nos balanços vou tão alto.

Meus pés quase tocam as nuvens.

Rio.

Corro pelas terras.

Sou a dona das borboletas azuis.

As que aprisiono e as que ficam soltas.

Agora sou uma menina-moça.

Mas que dor no coração!

A mocinha não pode colocar o pé no chão.

Pronto, ela se libertou...

Mas o tempo passou.

Outro mundo ela encontrou.

Vejo dois enamorados.

Rio de novo.

Tão apaixonados.

Vejo uma mulher madura.

Uma uva...

Um vinho tinto.

Vejo um céu azulado.

Um céu ficando acinzentado.

Vai chover?

Não... já choveu... a cântaros.

Agora brilha o sol...

Um raio vai bater bem na pedra branca do jardim e reflete no espelho do tempo.


Sonia M. Delsin


TEU RECEIO

Teu receio é me magoar e me magoas assim.

Teu receio é me ver chorar.

E eu sempre choro.

Não com lágrimas me correndo no rosto.

Que este choro eu evito.

Mas no coração eu choro, eu grito.

Encontrei esta forma de me conectar com o infinito.

Choro minhas dores calada.

Tu me queres sorrindo.

E eu também sorrio.

Eu choro e canto.

Sou riso e pranto.

Teu receio é me fazer sofrer.

Mas sempre sofri por nós em todos os nossos tempos.

Sofri porque conheço todos nossos porquês e senões.

Lindo, em vez de te preocupares, me beija a mão.

Em vez de te preocupares procure tranqüilizar teu coração.

Sonia M. Delsin